Sociedade da Performance e a Produtividade
Venho de uma geração que cresceu junto com a ascensão da internet e das mídias sociais e que (sem surpresa) acabei sendo engolida pela noção de querer pertencer, acompanhar e ser. Ganhei meu primeiro smartphone com 12 anos e, desde então, ele tem sido uma extensão primária de mim, sendo muito difícil de me desvencilhar até hoje. Esse tempo de tela excessivo acabou me deixando com aquela sensação de FOMO (Fear Of Missing Out / Medo de Ficar de Fora) em relação às redes sociais, sem conseguir transitar entre tarefas sem passar um tempo rolando um feed.
Além dessa necessidade de querer acompanhar e não querer perder nada, acabei desenvolvendo uma aversão pelo tédio e pelo ócio. Não entendia como era possível simplesmente não fazer nada, sem consumir, sem produzir, sem estar presente na vida dos outros. Como assim ficar sem me cobrar o tempo inteiro para ser útil? Sempre que penso sobre isso, reflito também sobre como tantas coisas só foram possíveis justamente porque o ócio existiu — inclusive este blog.
Um exemplo dessa cobrança doentia pela produtividade aparece naqueles vídeos com o título de "Indo dormir feia para acordar bonita!", onde (majoritariamente) o público feminino é incentivado a utilizar todo e qualquer tempo disponível para "melhorar" a aparência — inclusive na hora de dormir. Já vi das coisas mais inúteis às mais absurdas possíveis, como: não dormir de lado para a pele do rosto não "cair", dormir com o cabelo amarrado em 500 meias para acordar com ele perfeito, dormir de touca de cetim para evitar o frizz etc. Logo, até em um tempo de relaxamento e descanso, nos vemos na necessidade de utilizar aquele tempo para algo "útil" e para ficarmos bonitas aos olhos dos outros.
Percebo que eu mesma sou muito atravessada por essas noções de "ter que ser" e apresentar uma performance constante nas redes sociais, mesmo que ela não exista na vida real. O excesso de tela nos tornou mais críticos com nós mesmos. Passamos horas nos olhando no espelho, procurando defeitos, sem nos darmos conta do quanto esses comportamentos foram normalizados. E veja: nós, adultos, já nos sentimos assim — imagina o impacto disso em crianças e adolescentes, que já vivem tantas angústias próprias da idade. Como aprender a ser quem somos em uma época que cobra perfeição o tempo todo?
O sentimento de inutilidade que nos acompanha após muitas horas no celular é um fato. Por que falamos tanto do controle de uso de telas nas crianças, mas não nos adultos, que também são tão afetados e sofrem com isso, mesmo que silenciosamente. O que existe por trás dessa necessidade de sermos produtivos, performáticos e úteis socialmente? Ou melhor: estamos sendo úteis... para quem?
Comentários
Postar um comentário