Ainda é Amor
Ser e agir no mundo é algo extremamente complexo. Estamos o tempo todo nos renovando e descobrindo coisas novas que vão compor nossa personalidade. Nos acompanhar no nosso próprio processo já é, por si só, uma tarefa difícil. Imagina acompanhar o processo de outra pessoa e ainda ter que compartilhar com ela o nosso.
Crescemos em contato com o amor: da família, dos amigos, dos pets etc. Mas um tipo específico de amor nos acompanha de forma idealizada e, quase sempre, fantasiosa. Ele é construído com a ajuda da nossa cultura, atravessado por dispositivos de gênero, idealizado em filmes ou inspirado em casais que temos como "perfeitos". É o amor romântico: aquele que muitos desejam, outros não compreendem, e alguns acreditam que nem existe.
Quando penso em amor romântico — e sou do time que acredita que ele exista — penso em idealização e desejo, como algo quase perfeito. Que é o que acontece quando nos apaixonamos perdidamente por alguém e amamos tudo que aquela pessoa apresenta para nós. Até ela (na sua forma tão humana quanto a nossa) venha a nos decepcionar em algo. E aí percebemos que talvez não fosse tão perfeita quanto gostaríamos. Nessa lógica, acredito que o amor romântico exista, mas que ele dura pouco. Às vezes, só até a primeira "falha".
Por conta disso, acabamos vendo muitos casais no discurso de "queria que fosse como antes" ou até mesmo "você não é mais a pessoa por quem eu me apaixonei". Às vezes, de fato, os processos se desencontram e já não fazem mais sentido juntos. Em outros casos, há uma quebra nos acordos do casal, e a decisão de seguir caminhos diferentes é necessária. Mas e quando não queremos o término, mas ainda assim tem algo que nos incomoda? Por que não pode ser perfeito como tanto desejamos?
Somos humanos e fomos ensinados a desejar as coisas perfeitas e não nos frustrar com a dura realidade, que é tão diferente de nossas idealizações. É claro que seria perfeito não nos frustrar, mas é… a vida real é difícil, confusa, cheia de imperfeições. Ter alguém com quem possamos compartilhar tudo isso é um presente raro.
Ao meu ver, ter alguém e um espaço onde podemos ser nós mesmos deixa a vida um pouco menos difícil. Aceitar e ser aceito é libertador. Ouvir, comunicar e ser compreendido é amar. E não é tão fácil ou rápido, são tarefas diárias que podem levar a vida inteira, porque, de novo, somos humanos.
O fato é que sempre vamos decepcionar ou ser decepcionados. E então entramos na nossa angústia de precisar largar o ideal de amor romântico que tanto nos foi imposto e viver um amor real — onde há frustrações, imperfeições e também muito aprendizado. E veja: nem entrei aqui nas complexidades dos relacionamentos heterossexuais, que trazem consigo ainda mais camadas culturais e letramentos de gênero, como tão bem descreve Valeska Zanello em "A Prateleira do Amor" (leiam!!!!).
E não encontrei maneira melhor de finalizar um texto sobre amor senão falando do meu. Você faz tudo ter sentido, aprendo muito com você, e amo nosso amor, Heitor <3.
Essa escrita da semana só foi concretizada com a ajuda da minha psicóloga, que tem me acompanhado na minha jornada e também tem me ajudado a me encontrar dentro do meu próprio mundo. Obrigada, Gi!
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